José Arlindo Gouveia Nóbrega não tem um emprego qualquer. Ele não é segurança privado ou polícia, mas anda armado e recebe todos os meses perto de cem contribuições voluntárias de particulares e empresas pela segurança que faz no Caniço. Arlindo Nóbrega, 38 anos, é uma espécie de guardião do Caniço à noite. Ostenta o título de único guarda-nocturno da Região Autónoma da Madeira.É uma profissão muito pouco conhecida, mas está a ter resultados positivos. É um complemento à segurança que a PSP faz, mas no Caniço tem especial valor dada a falta de esquadra de polícia. O guarda colabora com os agentes de Santa Cruz.Há quem diga que esta poderia ser uma boa solução para prevenir e combater os assaltos no Funchal. Uma dessas pessoas e o gestor de empresas e antigo presidente do Sector do Comércio da ACIF, Emanuel Machado.Como elemento dissuasor e de vigilância, «julgo que seria muito importante a existência do guarda-nocturno, especialmente nas zonas pedonais», disse.Apesar do Funchal continuar a ser uma «cidade segura», as queixas de assaltos a alguns estabelecimentos comerciais justificam, pelo menos, «um debate» sobre o tema, defendeu Emanuel Machado.Nos termos da lei, o guarda-nocturno ronda e vigia, por conta dos respectivos moradores, os arruamentos da respectiva área de actuação, protegendo as pessoas e bens. E colabora também com as forças de segurança, prestando auxílio que por estas lhe seja solicitado.«É uma actividade que está entre o segurança privado e o agente da PSP», como define Arlindo Nóbrega, ainda que não dependa de ninguém hierarquicamente. A actividade vive das «contribuições voluntárias» das pessoas e empresas, em benefício de quem é exercida.O guarda-nocturno tem uma licença válida por um ano, emitida desde 2002 pela Câmara Municipal do local onde trabalha. Antes, a sua emissão era da competência dos serviços do Ministro da República.Mas Arlindo Nóbrega precisou de um abaixo-assinado para conseguir ver aberto o concurso para guarda-nocturno no Caniço.Ligado à segurança desde os 21 anosJosé Arlindo Gouveia Nóbrega, 38 anos, está ligado à segurança desde os seus 21 anos. Trabalhou para a Sonasa e para Securitas, na Madeira e no continente. Em 1997, já cansado da actividade por não se sentir profissionalmente realizado, fez um interregno para trabalhar na condução de um camião na nova pista do Aeroporto da Madeira. Foi nessa altura que ouviu falar dos guardas-nocturnos.A ideia agradava-lhe e ganhava cada vez mais interesse conforme o tempo ia passando, tendo chegado a viajar ao continente para conhecer melhor a actividade.Já decidido a ser guarda-nocturno, iniciou em 1999 os primeiros contactos no Caniço, numa espécie de prospecção de mercado, obtendo o “feed back” desejado.No ano seguinte, decidiu arriscar.Ainda vacilou entre o Funchal e o Caniço, mas concluiu que teria mais hipóteses fora da capital, uma vez que esta já estava «minimamente bem patrulhada» pela PSP. Por outro lado, a «expansão» do Caniço dava-lhe alguma tranquilidade.Acontece que guarda-noctuno é uma actividade cuja existência tem de partir da vontade das câmaras municipais, juntas de freguesia ou associações de moradores. Por isso, Arlindo Nóbrega teve de andar de porta em porta a sensibilizar especialmente os empresários para a importância do guarda-nocturno na defesa dos seus bens. Os que conseguia convencer ponham a assinatura no abaixo-assinado que Arlindo Nóbrega promoveu com vista a que fosse aberto o concurso de atribuição de licença.Apesar de achar que era mais fácil ser guarda-noctuno do que ter uma empresa de segurança privada (um outro sonho seu), Arlindo Nóbrega ainda teve outro contratempo quando o processo entrou nos serviços do ministro da República. «O meu processo esteve dentro de uma gaveta durante mais de três meses», queixa-se, por alegadamente os serviços não acreditarem na sua vontade de manter futuramente o projecto. A «ameaça» de denunciar o caso na comunicação social terá feito com que o dossiê saísse da gaveta.Já com o concurso em andamento, foi definida a área de intervenção do guarda-nocturno. Dos Reis Magos à Cancela e da antiga 101 até ao mar. Ainda hoje continua a ser a mesma área. Nóbrega conseguiu finalmente a licença e em 2001 iniciou a actividade.Tal como desde então, no primeiro dia de trabalho o guarda-noctuno Arlindo Nóbrega dirigiu-se à esquadra da PSP de Santa Cruz para se equipar. Vestiu a farda, colocou o cinturão de cabedal preto e prendeu o bastão curto, a arma de fogo e as algemas. Guardou o apito no bolso.O primeiro dia «foi um bocado esquisito», disse, por não ter em quem se apoiar.«Saí da esquadra e disse: bem, por onde começo?», recorda-se, a sorrir.Mas conforme o tempo foi passando as pessoas foram se familiarizando com a sua presença. «Fiz-me notar», disse, mostrando total disponibilidade para ajudar em todos os casos ocorridos na sua área de “jurisdição”.Mesmo assim, «os primeiros três meses foram praticamente para o gasóleo», confessa.ACIF remete para “Comércio Seguro”A ACIF remeteu para a parceria “Comércio Seguro”, feita recentemente entre esta associação e a PSP, os esclarecimentos pedidos pelo JM acerca da relevância, ou não, de guardas-nocturnos para ajudar a prevenir e combater a criminalidade no Funchal, particularmente a perpetrada contra os estabelecimentos comerciais.Num email assinado por Assis Correia, é escrito que a iniciativa “Comércio Seguro” já «chamava a atenção do comércio e da população em geral para a prevenção contra o furto», como, aliás, consta do folheto informativo distribuído pelos lojistas da baixa da cidade.Assis Correia recuperou alguns dos conselhos sugeridos pela PSP nessa iniciativa e mandou-os para o JM. Assim, o correio electrónico fala do que a PSP aconselha há muito tempo, nomeadamente a atenção redobrada nos momentos de abertura e encerramento dos estabelecimentos, bem como as verificações das portas, janelas e cofres. Usar pouco dinheiro na caixa registradora e ser discreto nas receitas obtidas eram outras indicações feitas no folhetim. «Se acatar as sugestões da PSP poderá contribuir para diminuir significativamente o risco de ser assaltado», termina o email, sem, contudo, se referiu sobre a figura do guarda-nocturno.
P.S.-Porque será que não se refere á figura do Guarda-Nocturno, quem tem essa profissão sabe bem o porquê do silêncio, por isso é que passamos pelas dificultades que passamos, com o prejuizo da falta de reconhecimento pelo serviço eficaz que prestamos...