Guarda-Nocturno Santarem

Publicada por Carlos Tendeiro | domingo, abril 24, 2005

Fernando Martinho recebeu louvor público pela sua actuação na zona industrial de Santarém

Um guarda exemplar
O guarda-nocturno da zona industrial de Santarém tem no seu currículo dezenas de detenções e uma soma invejável de assaltos frustrados. O seu trabalho é tão meritório que a polícia sugeriu à câmara conceder-lhe um louvor público.
Fernando Martinho, um dos cinco guardas-nocturnos a actuar na cidade de Santarém, foi apontado na semana passada pela câmara municipal como “um exemplo a seguir”. A proposta para o reconhecimento público partiu do comandante distrital da PSP, superintendente Levy Correia.
“É uma pessoa com muita capacidade de trabalho. Esta última acção encheu-nos os olhos porque não é qualquer um que colabora daquela maneira”, disse o graduado ao nosso jornal.
O episódio que motivou a proposta de louvor deu-se no passado dia 18 de Fevereiro quando o guarda-nocturno enfrentou um grupo de seis homens armados que assaltavam o stand da Mercedes. Graças ao seu alerta, uma das viaturas acabou por ser recuperada pela polícia.
Há 11 anos a vigiar a zona industrial e o bairro da Portela das Padeiras, em Santarém, Fernando Martinho colecciona um rol invejável de detenções (20 só em 2004), a maior parte das vezes actuando sozinho.
A proposta assinada pelo intendente Levy Correia destaca as qualidades profissionais e pessoais daquele homem de 42 anos, que apelida de “voluntarioso e solidário”, com “excepcionais dotes de coragem, sangue frio, espírito de decisão e iniciativa, a nível profissional” e “espírito franco e alegre”, além do “aprumo, correcção e atavio” com que se apresenta.
Fernando Martinho disse à Agência Lusa não ter ainda conhecimento oficial do reconhecimento público de que foi alvo, declarando-se como “um homem feliz” com a profissão que tem.
No seu entender, para se ser guarda-nocturno “é preciso gostar da noite, saber gerir os medos, ter uma perspicácia acima do normal e ser muito desconfiado”, atributos que admite possuir.
Residente numa outra localidade do distrito de Santarém, Fernando Martinho confessa que nunca gostou de se levantar cedo, pelo que não se dava bem com o trabalho que tinha numa firma, com um horário das 08h00 às 18h00.
“Nunca fui pontual e quando um vizinho, que era guarda-nocturno, numas férias me convidou a acompanhá-lo numa ronda, na qual fizemos uma detenção, o bichinho mordeu-me. Assim que soube que a PSP de Santarém tinha aberto inscrições para guardas-nocturnos inscrevi-me, fiz os testes e cá estou”, disse.
Para Fernando Martinho, o mais difícil foi arranjar os clientes e é hoje fazer as cobranças, mas confessa-se ligado ao grupo de pessoas para quem trabalha, não admitindo mudar de zona.
Fernando Martinho conhece a zona industrial “como as palmas das mãos” e, sendo uma zona calma, quando é “visitada” não é por toxicodependentes que procuram o pequeno furto, mas “é barra pesada”.
O guarda tem algumas experiências caricatas no seu currículo, como o susto que apanhou quando foi verificar uma carrinha parada junto a uma firma em que tinha tocado o alarme e saltou-lhe um gato.
Percorrendo em média 80 quilómetros por noite - a que soma os percursos dos seus quatro colegas para concluir que os guardas-nocturnos de Santarém percorrem 400 quilómetros por noite -, Fernando Martinho assegura que a cidade é das mais calmas do país.
“Nós vemos e sabemos coisas que mais ninguém vê nem sabe. Conhecemos os carros à distância só pelo barulho”, mas “também detectamos coisas como o cano roto, o sinal danificado”, um serviço que em outras autarquias é reconhecido e pago, o que não acontece em Santarém, disse.
O MIRANTE/Lusa