Cronica do Presidente do Sinapol no Jornal "O Crime"

Publicada por Carlos Tendeiro | quinta-feira, janeiro 13, 2011

Guarda-nocturno, profissão em vias de extinção
Armando Ferreira*

A função secular de guarda-nocturno tem estado sob um ataque cerrado, desde que alguns guardas-nocturnos se viram privados de utilizarem as armas de serviço e cassetetes, que todos os dias eram levantadas e entregues nas esquadras da PSP e Postos da GNR, situação que se verificou durante dezenas de anos, possibilitando a estes profissionais uma capacidade de intervenção eficaz no combate aos furtos e roubos que ocorriam na sua área de ronda.Não se conseguem compreender as razões para este desarmamento, principalmente num momento em que se começa a falar na possibilidade de os seguranças privados poderem usar armas, sobretudo num momento da história de Portugal em que todo o tipo de serviço de “patrulhamento” é uma mais-valia para o combate à criminalidade inegavelmente crescente, embora algumas estatísticas incompletas (sem todos os dados) pretendam convencer-nos da sua diminuição.
Durante este período, as convulsões e alterações das funções e capacidades de acção dos guardas-nocturnos, só têm servido um propósito, concretamente o da desmotivação de novos candidatos a guardas-nocturnos , o que está a conduzir à diminuição do número de pessoas que exercem esta profissão e consequente extinção de uma profissão secular.
Carece salientar que, estes profissionais, embora desempenhem funções, em algumas situações comparáveis às das forças de segurança, envergando uma farda, um crachá,algemas, cassetete e arma de fogo, não são remunerados pelo Estado Português, nem ão pouco compensadas pelas situações de perigosidade que muitas vezes enfrentam, sendo a sua remuneração o somatório das contribuições voluntárias dos cidadãos que habitam a sua zona de ronda. Aliás, mesmo numa rua onde nenhum habitante contribua para a sua remuneração, tal facto não é impedimento para que o guarda-nocturno zele por eles e pelos seus bens.
Porém, os polícias que trabalharam em esquadras da PSP e postos da GNR, onde também existiram, ou ainda existem, guardas-nocturnos, sabem que,em muitos casos, estes profissionais são um dos principais reforços daquelas forças policias (em consequência da falta de efectivos), mesmo com risco para a sua própria vida.
A melhor, ou, na realidade, a pior forma de compreender isto é recordar a triste história do malogrado Chefe Martins, da PSP de Lagos. Numa madrugada fatídica, depois de comunicações da GNR informando que estavam em perseguição de um grupo de assaltantes (‘gang do Pecas’), e que estes se dirigiam para a cidade de Lagos, o Chefe Martins, juntamente com elementos da PSP e guarda-nocturno concentraram-se na entrada da cidade, criaram uma barreira para interceptar a viatura conduzida pelo ‘gang’ em fuga, o qual,
confrontado com a barreira policial, forçou a passagem atingindo mortalmente com um tiro de caçadeira o Chefe Martins. 
A pessoa que se encontrava ao lado do chefe da PSP era o guarda-nocturno, que só por sorte também não foi atingido.
Em Portugal, existem actualmente cerca de 270 guardas-nocturnos, quando no passado chegaram a existir cerca de 600.

* Presidente do Sindicato Nacional de Polícia/Sinapol

Em: SINAPOL , 12 de Agosto de 2010