Guardas-Nocturnos Alveca e Alhandra

Publicada por Carlos Tendeiro | sábado, junho 10, 2006

Guardas-nocturnos fazem serviço de polícia mas não têm salário fixo nem regalias sociais


Vida arriscada
Andam fardados e armados. Arriscam a vida como os polícias, mas não têm salário fixo, nem direitos sociais. Guarda-nocturno é uma profissão de risco em todos os sentidos.
Enquanto a maioria dorme, os guardas-nocturnos fazem a ronda pelo escuro da noite, percorrendo centenas de quilómetros. Trabalham em colaboração com as autoridades policiais para manter a noite tranquila.
Uma actividade privada, que exercem por conta própria, onde certo é apenas o risco que correm. Auferem um rendimento que varia em função das contribuições de comerciantes, moradores e empresas estabelecidas nas áreas onde prestam serviço. Alguns deixam de pagar sem aviso prévio e a instabilidade agudiza-se.
A actividade de guarda-nocturno já conheceu dias melhores, reconhecem Alves, Pacheco e Valadas com a autoridade de quem conhece os perigos da noite há mais de 20 anos. O primeiro trabalha em Alhandra, os outros dois repartem a cidade de Alverca.
Embora cada um deles tenha uma área atribuída, funcionam como equipa. Quando um necessita de apoio, os outros avançam para dar ajuda.
Enquanto decorre a conversa com a nossa reportagem, Valadas é alertado pelo guarda de uma construção junto à Previdente, na EN 10, em Sobralinho. Alguém entrou nas instalações. Alves interrompe a conversa e vai dar apoio ao colega. O MIRANTE segue a operação e pouco depois chega Pacheco.
Os três guardas-nocturnos e uma patrulha da GNR tentam localizar o intruso que acaba por escapar, deixando um buraco na rede da vedação.
Uma boa parte dos alarmes das empresas estão ligados aos telemóveis dos guardas-nocturnos, o que permite, logo que o alarme é accionado, que o “agente” avance para o local e alerte de imediato a GNR.
Isto não acontece com os alarmes que estão ligados a empresas de segurança. Segundo explicou Alves, “muitas vezes as empresas de segurança nem vão ao local, limitando-se a avisar a GNR por telefone”.
Para além da ronda os guardas-nocturnos estão prontos para ajudar os seus contribuintes, deslocando-se a uma farmácia para adquirir medicamentos urgentes se tal lhes for solicitado.
Uma disponibilidade que nem sempre tem retorno. “Há comerciantes que se inscrevem para obterem o nosso autocolante para colocar nas lojas e depois não pagam, outros deixam de pagar, argumentando com a crise”, explica Pacheco.
“Os combustíveis cada vez estão mais caros e nós andamos aqui quase por carolice”, afirma Valadas. “Esta actividade já não compensa”, conclui.
Os guardas suportam todas as despesas da actividade: viatura, combustível, segurança social, seguros, farda.
A pistola de serviço é fornecida pelas forças de segurança da área onde trabalham, sendo recolhida todos os dias no início do turno e entregue quando termina.
“Por noite fazemos mais de 200 quilómetros”, sublinha Pacheco.
O que ainda vai mantendo a actividade dos três guardas-nocturnos são algumas empresas instaladas nas áreas onde prestam serviço e que pagam contribuições mais generosas.
“Tenho algumas empresas que são minhas contribuintes que fazem questão de manter a contribuição, incentivando-me a continuar a trabalhar”, refere Alves
Alves, Pacheco e Valadas são associados da Associação dos Guarda-Nocturnos e integram a Associação Humanitária “Os Alertas”. Estão sempre alerta na calada da noite, e quando o mundo descansa.