Naquele tempo era usual ouvir-se no silêncio da noite o som de palmas. “Já vai!”, gritava o Senhor Manuel, guarda-nocturno. Um sexagenário bem adiantado, simpático, baixote, bem nutrido, com a espada que na época usavam estes vigilantes da noite, quase a roçar o chão. Lembram-se do boneco sempre-em-pé? Pois era essa a impressão que causava aquele “boneco animado”. Andando pachorrentamente com os pés para o lado, com um grosso molho de chaves na mão. “Boa noite menino Fernando”. “Boa noite senhor Manuel. Muito obrigado”. Abria a porta da rua e com a lanterna apontada a iluminar o primeiro lanço da escada, esperava que eu dobrasse o seguinte que me conduziam ao segundo andar.