Temos de estar sempre de olho em cima

Publicada por Carlos Tendeiro | sábado, outubro 23, 2010 |

Comerciantes da Fernão de Ornelas sentem-se sós na prevenção dos assaltos

Impunidade da lei, falha das políticas de inclusão social e falta de policiamento explicam a onda de assaltos na Rua Dr. Fernão de Ornelas. Esta é a opinião geral dos comerciantes contactados pelo DIÁRIO na 'Main Street' do Funchal, como classifica Jacinto Amorim, dono de  uma das mais antigas lojas da baixa da cidade.
Aberta desde 1949, a casa de pronto-a-vestir da Rua Dr. Fernão de Ornelas já resistiu à vaga de assaltos na década de 80, a geração dos 'punks' que, durante a noite, destruíam montras para roubar blusões de cabedal. Na altura, os comerciantes juntaram-se para contratar um guarda-nocturno e a vaga de furtos e de vandalismo esvaiu-se.

Hoje, dizem, a insegurança está pior e manifesta-se através de roubos e assaltos sob ameaça de arma em pleno dia. Os acontecimentos da última semana são exemplos disso.
"Não há policiamento e sente-se mais insegurança sem dúvida", regista Maria João, sócia gerente da Casa Amorim. "Às vezes entram aqui drogados à espera da hora deles. Temos de estar sempre de olho em cima", alerta.

O proprietário Jacinto Amorim analisa o problema de uma forma mais abrangente. "Não há quem consiga endireitar isto", afirma, olhando os mendigos, aleijados, alcoólicos e toxicodependentes que se juntam no Largo do Phelps e deambulam até serem derrotados pelo alcoolismo às portas da igreja do Colégio ou nas escadas da rua Direita, pernoitando em à porta das lojas e em qualquer vão de rua.
"Os polícias estão mais preocupados em multar. Mal pára um carro e vêm logo multar para fazerem cinco ou seis euros", critica a prioridade da acção policial.
Manuel Filipe, funcionário na loja 'Marcus', subscreve a tese da falta de policiamento, mas também aponta o dedo ao sentimento de impunidade de quem rouba. "A gente está há 30 e tal anos aqui nesta rua e já sabe como é que é". Isto para dizer que "os indivíduos apanhados a roubar ouro foram lá para cima meia hora (para a esquadra) e já estão ali outra vez". Ser apanhado em flagrante delito não basta, conclui.
Freitas Branco, proprietário da sapataria Roma, tranquiliza. "São casos esporádicos que acontecem em qualquer lado. As pessoas podem vir à Fernão Ornelas que não há problema", lança em jeito de promoção ao comércio tradicional. "O que falta é civismo", considera, criticando o mau ambiente provocado pelos meliantes que deambulam pela rua sem trabalho e pelos mendigos "que bebem vinho de manhã à noite".

ACIF não dramatiza
Duarte Rodrigues, presidente da Associação Industrial e Comercial do Funchal, não dramatiza. "Acho que foram dois casos mais pontuais do que regra, que foram mediatizados e bem, mas não me parece que conduzam a uma tendência galopante".
Admite, porém, que a conjuntura socio-económica resultante das medidas de austeridade, resultarão no inevitável aumento do desemprego e em problemas sociais que se podem agudizar.  "Acredito que as autoridades vão estar atentar e saberão encontrar soluções", reitera. (...)


Nota do redactor

Segundo contacto recebido pela Câmara Municipal do Funchal, está para breve a admissão de 4  Guardas-Nocturnos para região.