Crimes cometidos pelo Delfim dos Santos Sousa contra Guarda-Noturnos

Publicada por Carlos Tendeiro | domingo, junho 13, 2010

Crime, disseram eles

Histórias de antigos inspectores da PJ no combate aos homicídios

O PERIGOSO BANDIDO

A história de Delfim dos Santos Sousa, que cumpre uma segunda pena consecutiva de 20 anos de prisão, é contada por Rui Silva, o ex-inspector que prendeu duas vezes o perigoso bandido.

No final da década de 70, Delfim assaltou um guarda-nocturno da Damaia para lhe roubar a pistola. Acontece que também o matou. "Identificámos o autor mas não o conseguimos prender. Tivemos depois uma informação – bandidos amigos dele trocaram informações por algumas facilidades que a polícia lhes concedia em crimes menores – que a mulher ia dar à luz um filho na Maternidade Alfredo da Costa". E foi para lá que a secção de Homicídios da PJ foi, numa autêntica caça ao homem. "Eu fiquei à porta principal da Maternidade, ele saiu e, quando se dirigia para um táxi, apontei-lhe a pistola à cabeça. Com ele tinha a arma roubada ao guarda".
Tempos depois, já Delfim andava na rua. Começou a ser investigado por assaltos aos comboios na linha de Sintra e até por disparar, "só por brincadeira", a sua G3 no bairro da Boavista, em Lisboa, fazendo pontaria a automóveis. Nasceu o mito que Delfim era um terror.
Mais uma vez com informações ‘cantadas’ por alguém, a PJ foi atrás dele a um bairro da Pontinha, onde morava um dos elementos do seu gang. Juntamente com Rui Santos estava o estagiário Almeida Rodrigues – que hoje dirige a PJ. "Eu estava a lanchar numa barraca quando chegou o Delfim. Fui direito a ele e mandei uma rajada de metralhadora a um metro da cabeça dele. Deitou-se logo no chão. Lá prendi o ‘perigoso’ Delfim. Nesse dia fiquei-lhe com o chapéu, um boné preto de veludo, e escrevi lá a data ".


O Homem que mandou uma granada contra Guardas-Nocturnos em Rio de Mouro, tendo atingido dois deles.

O Expresso pediu uma entrevista a Delfim Sousa, que aceitou. O pedido para uma visita à cadeia de Monsanto foi recusada pela Direcção-Geral dos Serviços Prisionais "por razões de segurança". A entrevista foi feita por escrito. Delfim está preso numa cadeia de alta segurança com o regulamento disciplinar mais apertado do país. Dorme numa cela individual, anda de farda e é sujeito a revistas regulares. "Tem tido um comportamento correcto e aqui não tem qualquer hipótese de traficar droga", diz um guarda do estabelecimento. Já pediu várias vezes para ser transferido, o que foi sempre negado. O advogado, Vítor Carreto, já levou o caso ao Supremo Tribunal de Justiça, que confirmou a sentença. Apesar da pena máxima em Portugal ser 25 anos, Delfim vai continuar preso.
Quem olha para a foto guardada numa moldura de madeira ou para as respostas cândidas escritas na letra quase infantil de Delfim Sousa dificilmente consegue imaginar o homem descrito nas várias sentenças dos tribunais. Ou no registo criminal de 64 páginas, que começa escrito à mão em 1977 e só acaba em 2005 num documento processado em computador. Preso pela primeira vez em 1977, cumpriu cinco meses por furto de um automóvel. Casou, teve um filho e no início dos anos 80 liderou um grupo de assaltantes de uma violência quase irracional. Num assalto a uma ourivesaria nas Caldas da Rainha, Delfim ficou à porta ao volante do carro de fuga. Quando apareceu um polícia, disparou a G3. O agente foi ferido e um homem que passava na rua morreu. Noutra ocasião, mandou uma granada contra um grupo de guarda-nocturnos. Não matou nenhum. E de acordo com um relatório policial chegou a vigiar e perseguir o inspector da PJ encarregado de o prender. Há um homem que o quer ver em liberdade: Luís Sousa. "O meu pai não é nenhum santo, mas alguém merece estar preso tanto tempo?".